segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

UM FILME SOBRE ALTERIDADE...

Quem não assistiu "O último jantar"
( The last supper)
que assista.


O filme é antigo, de 1995, a diretora Stacy Title
é, apesar de ter feito outros filmes, pouco conhecida... e tem a Cameron Diaz num dos seus primeiros papéis...prá quem interessar...

Enfim...passaria desapercebido, como uma obra discreta dentre tantas espalhafatosas... mas é uma obra de arte. Não há nada em demasia ou em falta... tudo está no seu devido lugar, e isso é uma boa condição prá se ter algo memorável...

No filme o mote é o seguinte: jovens intelectuais acadêmicos chamam pessoas de controversas posições políticas, religiosas e afins para um jantar - debate. Com isso eles esperam exercitar sua própria capacidade de argumentação, conseguindo refutar as colocações de seus convivas e convencendo-os de quão enganados eles estavam, assim "salvando-os" da iniquidade.

O problema é que muitas dessas crenças não estão pautadas no discurso liberal-racional- acadêmico, e a maioria dos convidados não parece muito disposta a abrir mão delas mesmo assim...

Que fazer então com seu conviva homofóbico, misógeno, extrema-direita?

Um desastre indica o caminho... a discussão sai do âmbito das idéias e passa a agressão física... na briga um dos visitantes é ferido e morre.
A partir daí os amigos passam a chamar toda a semana uma persona non-grata para um enfrentamento de idéias...porém se a pessoa não se convencer de sua posição equivocada, ela ganha o direito a brindar com um vinho especial...com alta concentração de arsênico.

O filme é inteligente do início ao fim.

Os amigos liberais, politicamente-corretos, formalmente educados, dão um show de... INTOLERÂNCIA...ao mandar prá baixo da terra os "futuros Hitler", os "futuros Stalin", e assim por diante...
Nada dá errado nos planos dos moços salvadores-do-planeta... cheios de boas-intenções eles continuam fazendo sua "limpeza ideológica" e aumentando o adubo de seu jardim e de sua plantação de tomates que cada dia se torna mais exuberante...

Mas o problema é que a intolerância começa a ser tamanha que começa a estremecer os laços de amizade entre moderados e exaltados, eles passam a mal se suportar uns aos outros e no fim no meio à duvidas e culpa a não suportar nem a sí próprios.

Os poderes de conceder ou não a vida à alguém mexem com a cabeça dos moços, esse "pode tudo" leva suas crenças morais à derrocada, vaidade, culpa e descontrole se instalam em medidas diferentes em cada um deles, transformando-os em sombras do que um dia poderiam ter sido...em cinzas dos heróis que desejavam ser...

É muito interessante...vê-los cedendo ao mal pela primeira vez...e acompanhar essa erva daninha se instalando e rompendo as paredes da casa interna de cada um e da casa externa na qual vivem todos eles...

Parece assustador não é? Seria...se o filme não fosse em tom de fino humor-negro, o que torna o trabalho da diretora algo mais memorável ainda, nada de cenas deprimentes, nada de sangue, nada de existencialismos... tudo muito leve, mas um leve que gruda na cabeça da gente e fica semanas rodando sem parar...

Ah, será que você tinha noção real do que queria dizer alteridade antes de assistir esse filme?

domingo, 11 de dezembro de 2011

ESPIRITUALIDADE

Ninguém melhor do que Foucault prá definir espiritualidade:


"Poderíamos chamar de ESPIRITUALIDADE o conjunto de buscas, práticas e experiências tais como as purificações, as asceses, as renúncias, as conversões do olhar, as modificações de existência, etc., que constituem [...] para o sujeito [...] o preço a pagar para ter acesso à verdade."

"A espiritualidade postula que a verdade jamais é dada de pleno direito ao sujeito."

"A espiritualidade postula que o sujeito enquanto tal não tem direito, não possui capacidade de ter acesso à verdade."

"Postula que a verdade jamais é dada ao sujeito por um simples ato de conhecimento, ato que seria fundamentado e legitimado por ser ele o sujeito e por ter tal e qual estrutura de sujeito."

"Postula a necessidade de que o sujeito se modifique, se transforme, se desloque, torne-se, em certa medida e até certo ponto, outro que não ele mesmo, para ter direito ao acesso à verdade."

"A verdade só é dada ao sujeito a um preço que põe em jogo o ser mesmo do sujeito. Pois tal como ele é, não é capaz de verdade."

"[...] Desse ponto de vista não pode haver verdade sem uma conversão ou sem uma transformação do sujeito."

"A espiritualidade postula que quando efetivamente aberto, o acesso à verdade produz efeitos que seguramente são consequência do procedimento espiritual realizado para atingi-la, mas ao mesmo tempo são outra coisa e bem mais [...]"

"Para a espiritualidade, a verdade não é simplesmente o que é dado ao sujeito a fim de recompensá-lo, de algum modo, pelo ato de conhecimento e a fim de preencher esse ato de conhecimento."

"A VERDADE É O QUE ILUMINA O SUJEITO; A VERDADE É O QUE LHE DÁ BEATITUDE; A VERDADE É O QUE LHE DÁ TRANQUILIDADE DE ALMA."

"Em suma, na verdade e no acesso à verdade, há alguma coisa que completa o próprio sujeito, que completa o ser mesmo do sujeito e que o transfigura."


"Resumindo: para a espiritualidade, um ato de conhecimento, em sí mesmo e por sí mesmo, jamais conseguiria dar acesso à verdade se não fosse preparado, acompanhado, duplicado, consumado por certa transformação do sujeito, não do indivíduo, mas do próprio sujeito no seu ser de sujeito."



terça-feira, 8 de novembro de 2011

A DOR DE SER MAU

As pessoas más são aquelas que fazem as demais sofrerem, ou por palavras, ou por atos, ou pela sua omissão, ou pela sua presença, não importa... há sempre um modo de tortutar o outro, negando-lhe as expectativas... seja lá quais forem.

Mas todos fazemos os outros sofrerem em algum momento ou em outro da vida...a diferença seria que na maioria das vezes fazemos sem querer, e nos desesperamos quando vemos a dor do outro...

Às vezes, de vilania, fazemos por querer, mas esse "fazer por querer" nos come por dentro e da próxima vez tentamos não fazer de novo, porque ser mau dói.

Todo mundo justifica suas vilezas afirmando que já foi martirizado alguma vez sem compaixão, o que não é justificativa de nada, na verdade.

Os maus vão além, prá eles o mundo é sempre duro e que as pessoas são sempre cruéis, e é por isso que eles são como são e fazem o que fazem... A única compaixão possível à eles é aquela por sí proprios. Mas eles sofrem...
E é aí que eu quero chegar:

SER MAU DÓI. É impossível ser feliz sendo mau...

Não deveria ser assim, afinal eles estão fazendo o que querem, estão punindo o resto da humanidade das crueldades de que foram alvo...e geralmente são bem-sucedidos...

Todas as pessoas ruins que eu conheço sofrem muito mais do que suas vítimas...tem uma vida miserável do ponto de vida emocional, espiritual... sua pele é opaca e não refelete a luz...
Eles tentam zerar o tempo todo um jogo que prá eles sempre volta pro negativo... estranho, não?

Parece uma daquelas punições dos deuses gregos, como ter fome e nunca poder comer, ou ter sede e nunca poder beber, ou empurrar uma pedra subindo uma colina e lá de cima a pedra despencar e ter que fazer tudo de novo infinitas vezes...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

HOMO OECONOMICUS

"O Homo oeconomicus como tipologia geral e abundante é um acontecimento recente na história da civilização."

"Por que tantas pessoas com várias possibilidades de escolha elegem o comércio, as atividades mercantis, as profissões lucrativas e o trabalho remunerado como caminho prioritário de suas vidas?"

"Do ponto de vista histórico, a geração de riqueza material como via existencial da grande maioria da população é um fenômeno da modernidade."

"Na Antiguidade mediterrânea, a honra e a glória guerreira foram os motivos dominantes, como foram a exaltação espiritual e o amor cortesão na Idade Média ou a fama no Renascimento."

"O sacrifício vocacional é fácil de ser entendido quando a sobrevivência e a subsistência estão em jogo...
...mas a sensação de ter perdido o rumo da própria vida em algum ponto da sua história individual é tão frequente em pessoas com boa situação econômica, que tem e sempre tiveram a sobrevivência e o bem-estar assegurados...
"

"As complexidades afetivas do dinheiro remetem inevitavelmente ao problema da felicidade e da busca de plenitude na vida."

"A maioria das pessoas tende a seguir a linha de menor resistência e evitam enfrentar conscientemente os problemas centrais da existência."

"Há uma tendência natural em fugir do conflito. Para o homem moderno, as atividades lucrativas e o dinheiro se constituíram no instrumento com o qual o burguês poderia silenciar os medos e os temores mais gritantes da vida, o produto cultural mais depurado para afastar as sombras do abismo em que submergiria caso se deixasse levar pela vivência extrema dos outros impulsos e paixões ocultos dentro de sí."

* Pois é, essas observações são do livro já citado: Dinheiro- Sanidade ou loucura de Axel Capriles.

É engraçado falar disso novamente mas o livro é tão cheio de observações pertinentes... principalmente nessa época em que o furor consumista por conta do Natal já está se instalando...

Esses dias lí um artigo no Correio Brasiliense em que o autor defendia a idéia de que 70% do que possuímos é desnecessário. Olhei em volta e concluí que o pior é que é verdade...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

PSICOPATOLOGIAS MONETÁRIAS...

Esses tempos atrás ao observar as pessoas em geral percebí o quanto o dinheiro influencia a vida delas - ou de todos nós. Não é apenas uma questão de pouco dinheiro ou de muito dinheiro, de tê-lo ou não tê-lo. Foi ao perceber que muitas vezes a presença do dinheiro complica a vida de determinadas pessoas, mais do que simplifica, que passei a analisar com mais atenção o fenômeno, e descobrí que a maioria dos sujeitos não sabe se relacionar com o dinheiro de forma saudável- ou seja usando-o para aquilo que ele foi criado: como meio de troca, uma espécie de recipiente vazio. Das muitas coisas que lí sobre o dinheiro nessa minha busca de entendimento uma das melhores foi o Livro de Axel Capriles, Dinheiro - Sanidade ou loucura?, aí vão umas considerações muito interessantes:

"A psicopatologia monetária molda desde os acontecimentos banais da vida cotidiana até os valores e significados culturais profundos."
"O complexo do dinheiro é, em definitivo, o grande tema da psicologia contemporânea, uma poderosa dominante psíquica com a qual os analistas e psicoterapeutas têm que aprender a lidar inevitavelmente [...] A exploração da vida financeira de um paciente é tão necessária como a análise da infância, a que a nossa obsessão biográfica tem dado tanto peso. Na prática psicoterapeutica de todos os dias, o dinheiro é uma presença contínua. É o fio condutor das patologias e dos complexos familiares, é o veículo que dá continuidade às paixões, de geração em geração."


"O uso emocional do dinheiro aparece em quase todos os disturbios mentais."

"Nos casos de mania surgem com frequência delírios demenciais de grandeza e riqueza. O doente eufórico se sente capaz de realizar os mais arriscados negócios e as mais extraordinárias transações milionárias [...] Os paranóicos escondem o dinheiro e vivem obcecados e acossados pelo temor de alguém queira roubá-lo.
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As taras monetárias estão presentes em cada tipologia caracteriológica: no avarento, no tacanho, no perdulário, no jogador, no exibicionista, no sonhador, no negociante, no colecionador."


"Cada tipo de personalidade, cada organização de caráter expressa uma dinâmica psíquica diferente, uma constelação sui generis do complexo monetário [...]

As finanças tecem silienciosamente intrincados contratos interpessoais, demarcam territórios e fronteiras que nos prendem e nos violentam de modo dissimulado [...]


O orçamento monetário incomoda a sexualidade e o casamento. É parte da manipulação, do domínio e do poder sexual nas relações interpessoais. [...] Os assuntos financeiros complicam o trato com os amigos, os laços afetivos do casal, os vínculos de parentesco e as relações entre pais e filhos.[...]

É, de fato, o caminho de entrada mais direto para as zonas escuras da personalidade."


"A idéia de uma culpa velada e um desprezo pelo dinheiro que se insere no mais profundo inconsciente coletivo do latino americano [...] Se algo que desejo (porque gosto e me dá prazer) também me incomoda ( já que inconscientemente me produz culpa e desdém), quando o obtenho, minha tendência será imediatamente usá-lo, ou, fazê-lo desaparecer. Tentarei me desfazer dele."

domingo, 24 de julho de 2011

RELAÇÕES DE PODER...QUEM É OPRIMIDO, QUEM É OPRESSOR?

Em algum lugar do "Microfísica do Poder"- coletânea de artigos de Michael Foucault, ele trata das relações de poder que vão além daquelas institucionais (do aparelho do estado: pátria, família, religião, escola ...)
Foucault desprende-se da ingenuidade dos marxistas que afirmavam haver oprimidos e opressores, sempre numa relação vertical de coação e com locais fixos dentro da pirâmide social.

"Dizendo poder, não quero significar 'o Poder', como conjunto de instituições e aparelhos garantidores da sujeição dos cidadãos em um estado determinado. Também não entendo poder como modo de sujeição que por oposição à violência, tenha a forma da regra."

"O poder está em toda a parte; não porque englobe tudo , mas porque provém de todos os lugares."

Não não, é mais complexa com certeza a questão: o poder (de reprimir ou de incitar) não existe em um só lugar e em uma direção apenas, "o que existe são práticas ou relações de poder" que ocorrem em "níveis variados e em pontos diferentes da rede social", "estados de poder instáveis".

Como Machado de Assis ilustrou no seu Brás Cubas através do episódio do negro Prudêncio, o oprimido torna-se o opressor de acordo com a sua possibilidade, ele passa adiante a violência da qual foi alvo, horizontalmente ou verticalmente.

"O poder se exerce a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e móveis".
* Foucault - historia da sexualidade vol I.

Outro exemplo é a protagonista do engraçadíssimo e cruel filme "Bem vindo à casa de bonecas" de Todd Solondz, sofrendo todo tipo de perseguição na escola por ser feia e sem graça a menina tem um único amigo, um garoto estranho e afeminado. Num momento de fúria ela "desconta" as violências sofridas no coitado. Provavelmente - o filme não mostra- mas esse amigo iria passar prá frente o tratamento recebido...

Logo não existem algozes e vítimas e sim ambos num só indivíduo.
Quando somos um e quando somos o outro? Eis a questão...

sábado, 23 de julho de 2011

SERIA O DINHEIRO O NOVO SEXO ?

As pessoas estão estabelecendo relações de satisfação e saciedade com o consumo.
Tudo o que foi descrito acerca das neuroses sexuais poderia ser transposto para o ato de comprar?
Seria então o dinheiro o novo parceiro nas relações?
O sexo foi trocado pelo consumo?
Ou a consumação do sexo foi trocada pelo consumo?

DINHEIRO, DEUS E ABSTRAÇÃO

No livro "Dinheiro- Sanidade ou loucura?" Axel Capriles fala do dinheiro como um dos processos que permitiram a evolução do homem.
Não foi a criação de ferramentas o que possibilitou os avanços tecnológicos- estas foram consequências, mas sim
a mudança na forma de ver o mundo, o que fez com que o homem saísse de seu estágio bestial.

Esse passo importante na diferenciação do homem dos demais animais foi o desenvolvimento da capacidade de abstração. Essa abstração se deu em duas vertentes, uma material e outra metafísica, digamos assim:

Na metafísica o homem "criou Deus", no sentido que percebeu processos que não eram cabíveis apenas a sí e aos demais seres vivos. Ele foi capaz de conceber uma divindade, e passou a criar simbolismos que dessem conta dessa relação do divino com o mundo físico. O plano metafísico passa a influênciar nas suas ações, e é por isso que o homem passa a enterrar seus mortos, a ritualizar suas ações, como a busca de alimento...

No Plano prático "criou o dinheiro"- a outra abstração.
Com as trocas o homem passou inicialmente a exercitar sua mente no sentido de traçar equivalências: X bois valem...X peixes? E posteriormente com a criação do dinheiro a necessidade de abstrair foi ficando maior: meus 2 bois valem 30 conchas. Era realmente atribuir à um objeto qualquer um valor simbólico, "de mentirinha": dinheiro é qualquer coisa que se atribua determinado valor desde que haja pessoas que aceitem essa "convenção". Esta ação é a mesma que nós fazemos hoje, ou nossas crianças, o processo é igual.

Em ambos, Deus e o dinheiro são abstrações, são processos onde se confere um supra-valor a algo que em sí não existe, é neutro, é vazio, é nada.
(Deus pode existir ou pode não existir depende da vontade do sujeito)
Uma vez que é nada, pode ser tudo também.
Uma vez que é vazio pode ser preenchido por qualquer coisa.
Deus é potência e nesse sentido o dinheiro também.

É como uma caixa vazia que colocamos o que quisermos.

Então o dinheiro tão material, tantas vezes acusado de sórdido, de corruptor, é na verdade tão impalpável como Deus, e tão importante no desenvolvimento do homem quanto ele.
Dizem que cada um tem o seu Deus, ou o Deus que merece, "que te cabe", "em que caibam suas crenças" por assim dizer.
Acho que dessa forma posso dizer que "cada um tem o dinheiro que merece", ou "que te reflete".

quinta-feira, 21 de julho de 2011

MÚSICA E SILÊNCIO...

Eu aprendi com um amigo que a música é composta de sons, mas também de silêncio.
Não é a quantidade de sons que define a música, mas os silêncios...
E quanto mais refinada, maiores eles são...

Observando as pessoas pude perceber que muito daquilo que se fala, se fala calando...
E aquilo que não está escrito às vezes é mais forte do que aquilo que foi escrito.
Assim como os melhores compositores, os melhores escritores são os que sabem calar.

No ápice do processo que relaciona silêncio e linguagem Clarice Lispector dizia que a sua busca era fazer a linguagem falar o que não podia ser falado - o inefável.
Em nossa forma menor nós falamos, sem palavras, o que não pode ser falado o tempo todo...
Isso é uma abstração às vezes muito difícil de explicar:
Como o ar, está lá, é responsável por inúmeros fenômenos, mas você não vê.
Ele move moinhos, mas você não vê...

"Não se deve fazer divisão binária entre o que se diz e o que não se diz; é preciso tentar determinar as diferentes maneiras de não dizer, como são distribuídos os que podem e os que não podem falar, que tipo de discurso é autorizado ou que forma de discrição é exigida a uns e outros. Não existe um só, mas muitos silêncios e são parte integrante das estratégias que apóiam e atravessam os discursos."
Michel Foucault
*Eu adoro o Foucault ele é um mestre em dizer o que foi silenciado dentro do que foi dito.

Quando comecei a estudar literatura a minha obsessão era entender o que estava por detrás do que era dito, ou seja o não-dito. Era até difícil de explicar, prá que os outros pudessem me ajudar, o que eu estava buscando: aquilo que existia mas não estava lá.

Hoje eu sei que o quê está lá, está no silêncio.
Talvez por isso eu ande tão calada...

sábado, 16 de julho de 2011

LIVROS E FILMES

A adaptação de obras literárias para o cinema não é novidade. Alguns críticos resumem o fato de tal ou tal adaptação ser um sucesso por causa de sua coerência, de sua relação perfeita e funcional entre todos os elementos, algo como um relógio suíço.
Mas às vezes, o diretor chega à uma conclusão oposta ao autor do livro...como se a "moral da história" fosse outra, como se traduzindo de um meio para outro as palavras mudássemos o sentido e portanto o significado, complexo não?

Vou falar de algumas adaptações de livros para cinema que me trouxeram o quê pensar:
* Existem as que excedem em qualidade, e em acabamento uma obra literária. É como se o diretor desse uma polida em um material bom, e tornasse-o assim maravilhoso, por exemplo:

- Sobre meninos e lobos, de Clint Eastwood. Baseado no romance de Dennis Lehane, Clint torna um material já soberbo em algo perfeito! Lehane escreveu uma tragédia nos moldes das grandes tragédias gregas numa cena contemporânea, o problema é que em algum momento do seu livro maravilhoso ele cita isso e não precisava, porque o bom leitor sabe, ou melhor quem tem que saber sabe de cara. Clint não fala nada, silencioso, ele confia na inteligência de seu leitor, o que acontece então é uma obra-de-arte!
- O Leopardo, de Luchino Visconti. Essa é a obra-prima de um mestre, mas o romance do Guiseppe de Lampedusa não é essas coisas todas, ele fala demais o que deveria calar, mas o Visconti sabe disso e dá uma desbastada no material, deixa apenas o essencial, e ilumina apenas o relevante, e aí fica perfeito!
- As virgens Suicidas, da Sofia Coppola. Baseado no livro homônimo Jeffrey Eugenides o filme é mais coeso, mais limpo e portanto mais intenso que o livro! O final da Sofia é mais coerente do que do autor....
- As Horas, de Stephen Daldry. O filme foi tão maravilhoso que me fez procurar o livro - de Michael Cunningham... mas o livro não trazia muito mais do que o filme, era interessante apenas apesar de ter ganhado o Pulitzer. O que me fez procurar o tal livro "Mrs. Dalloway" de Virginia Woolf atrás da "grande revelação epifânica" que ocorre com as mulheres do filme, e que comigo não ocorreu...
- Orlando - a mulher imortal, de Sally Potter, baseado no livro de Virginia Woolf - Orlando é mais interessante que o livro...a meu ver. Talvez eu tenha problemas com Virginia Woolf...
- Doutor Jivago de David Lean. O filme é perfeito, grandioso, sensível, inteligente, redondo, nada se tira, nada se põe nele, e ele não subestima seus expectadores como faz o autor do livro homônimo - Boris Pasternak com seu livro de 500 páginas chato e panfletário...

* Existem aqueles que acabam com uma obra literária, solapam, transformam um sem número de camadas diferentes em uma folha de fórmica branca:
- O Paciente Inglês, de Anthony Minghella. O romance do Michael Ondaatje é lindo, suave, delicado, texturado... o filme capta 1% do romance. É quase um resumo para vestibulandos burraldos do livro. E olha que traz Ralph Fiennes, Binoche e Kristin Scott Thomas... é muito desperdício...

* Apenas para cinema:

- The Royal Tenenbaums, de Wes Anderson, o dito-cujo é o diretor e o autor do roteiro. E o filme é perfeitinho, uma obra-prima. Eu achei que era meio bobo e não fui assistir no cinema. Dancei.
- O Piano, de Jane Campion. A mesma coisa, ela é a diretora e autora do roteiro de um dos filmes mais poéticos já produzidos!
- Match Point, do Woody Allen. Eu sempre gostei do Wood Allen...mas os filmes dele parecem sempre trabalhar em um tom menor, não este. Roteiro perfeito, direção idem.

ALGUMA COISA, QUALQUER COISA OU NADA.

Esses dias eu estava me lembrando que uma pessoa com quem eu vivi me dizia sempre:
Faça alguma coisa! Faça, faça e vá fazendo que um dia você chega lá.
(Ou seja você descobre o que estava fazendo.)
Faça alguma coisa! Qualquer coisa é melhor do que não fazer nada.

Curiosamente eu sempre fui contra "fazer alguma coisa",
"alguma coisa" parece demais com "qualquer coisa".
E "qualquer coisa" não me parece nada bom.

Parece algo sem importância, sem relevância prá quem faz e pro mundo...

Ao fazer, creio que a gente não precise saber para onde se está indo, é verdade...
Mas precisa-se saber PORQUE se está indo!
FAZER NADA me parece mais digno em algumas, muitas situações...

Muito tempo se passou e eu lí um ditado em ídiche citado pelo Nilton Bonder:
"Melhor fazer NADA do que tornar algo em NADA".

sábado, 2 de julho de 2011

ECONOMIA SEXUAL DE REICH

Wilhelm Reich desenvolveu a teoria da "Economia Sexual", esta é uma matéria multidisciplinar (como chamamos hoje) porque diz respeito e se relaciona com diversas áreas do conhecimento como: biologia, psicologia, sociologia, fisiologia entre outras. Essa teoria da sexualidade germinou no seio da psicanálise no inicio da déc. de 20 e foi responsável pela descoberta da "Potência Orgástica" e do "Reflexo Orgástico" e culminou na expulsão de Reich da Associação Psicanalítica Internacional em 1932. Segundo ela:

"A saúde psíquica depende da potência orgástica.
Do ponto até o qual o indivíduo pode entregar-se e pode experimentar o climax de excitação no ato sexual natural.
Baseia-se no cunho não neurótico da capacidade do indivíduo para o amor.
As enfermidades psiquicas são o resultado de uma perturbação da capacidade natural de amar."

A partir daí Reich analisa o comportamento repressor da sociedade da época em relação à sexualidade concluindo que é ele o responsável pelos distúrbios psicológicos, uma vez que a repressão aleija a sexualidade natural do homem, bloqueando assim o fluxo natural da energia vegetativa, ou energia vital.

"O homem é a unica espécie biológica que destruiu a sua própria função sexual natural e está doente em consequência disso."

Propõe então uma relação natural e libertária com o sexo a qual ele prega deveria ser ensinada às massas. Naquela época os psicanalistas tinham como tabu fazer questionamentos detalhados acerca da vida sexual dos pacientes. Para desenvolver a "Teoria do Orgasmo" ele teve que pedir a seus pacientes que descrevessem o seu comportamento e as suas experiências no ato sexual. A partir dos relatos ele pode criar a distinção que não havia anteriormente entre 'potencia sexual' que é ser capaz de efetivar um ato sexual (no caso do homem, ereção e ejaculação) e "Potência orgástica".

"Os mais perturbados de todos eram os homens que gostavam de alardear e exibir a sua masculinidade, homens que possuíam ,ou conquistavam, tantas mulheres quantas fosse possível, e que podiam 'fazê-lo' muitas vezes em uma noite. Ficou perfeitamente claro que, embora fossem eretivamente potentes, esses homens não experimentavam nenhum prazer, ou experimentavam apenas um prazer muito pequeno no momento da ejaculação."

A "Potência orgástica" seria a capacidade de "abandonar- se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica", ou seja, de se abandonar ao prazer, permitindo um fluxo ininterrupto da energia no corpo de maneira que este contraia e relaxe involuntariamente do genital para o corpo, do corpo para o genital, em forma de ondas.
Mais do que um evento ela seria um indício de que o fluxo energético no corpo encontra-se livre, isto é que a energia vital está circulando.

Diferentemente da psicanálise que identifica a repressão sexual da sociedade e propõe uma cura psicanalítica, ou seja individual e que não vai muito além dos limites do consultório, Reich propõe uma reformulação social do comportamento em relação à sexualidade.
Mais do que o indivíduo é a sociedade que deve ser curada, pois ela é quem produz a neurose.

Reich tornou-se o que chamamos de "persona non grata" em muito meios científicos e políticos; foi duramente criticado pelos psicanalistas tradicionais por suas tentativas de trazer a questão das neuroses para um âmbito social, foi rechaçado pelos socialistas que viam na psicanálise um passatempo de mulheres ricas e desocupadas (e até hoje ouvimos que terapia é coisa prá quem não tem o que fazer, ou não tem onde gastar dinheiro), foi perseguido pelos nazistas por causa de suas posições libertárias em relação à moral e costumes e por defender a auto-regulação do individuo em contraposição ao estado totalitário.
Cumpre lembrar que a época em que Reich atuou na europa pregando uma liberdade sexual da sociedade, foi a mesma em que se deu a ascensão do nazismo e dos regimes totalitários e ultra conservadores.
* Ele pregava que os jovens deveriam desenvolver com naturalidade a sua sexualidade, dentro de suas casas, acolhidos por suas familias, que eles deveriam ambos ter tido experiências sexuais variadas antes de decidirem se casar com alguém. Parece conversa daqueles "pais moderninhos" de hoje que deixam o filho dormir com a namorada em casa...pois é agora imagine isso na déc. de 20.

Seus estudos conhecidos como "Teoria do orgasmo" são até hoje mal interpretados, principalmente por aqueles que errôneamente vêem neles apenas uma incitação das massas para o sexo permissivo e promíscuo como forma de fuga para os problemas de saúde e sociais...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

WILHELM REICH

Já faz algum tempo estou lendo a obra de Reich, tudo começou com "A função do Orgasmo" que me emprestou uma amiga querida - e eu acabei pedindo o livro, que cara-de-pau...
Passei por alguns capitulos do "Análise do caráter" e por fim cheguei ao capítulo O abraço genital do livro "O assassinato de Cristo".

Existem autores que mudam a vida da gente, mesmo que a gente tenha lido um livro só do sujeito ele já desbarranca tudo e lá vamos nós reconstruir nosso mundinho sobre outros parâmetros...Ah meu Deus! É assustador, dá um trabalho enorme, mas é maravilhoso quando isso acontece. Porque o nosso horizonte se amplia: é o tal aprendizado.
Cada um tem os seus mestres... Dos muitos mestres que me jogaram no chão e me reergueram mais forte, e mais sábia, o último, o mais recente foi Wilhelm Reich.

Reich era médico- formou-se em 1922 pela Universidade de Viena. Ainda estudante passou a estudar temas como a sexualidade e entrou em contato com Freud,
o resultado disso foi mais de uma década de trabalho com psicanálise e de relacionamento teórico com a Associação Psicanalítica Internacional.


O que Reich observou durante esse tempo foi que embora muitas vezes viesse à tona o que causou o problema psicológico do paciente, os sintomas persistiam... E aí? O que fazer? Segundo ele a psicanálise na época parava por aí: descobrindo o motivo da neurose esperava-se que os sintomas desaparecessem...caso isso não ocorresse não havia o que fazer a seguir.

"Estabelecera-se inicialmente que o sintoma tinha que desaparecer quando o seu significado inconsciente se tivesse tornado consciente. Agora Freud afirmava: temos de fazer uma correção. O sintoma pode, mas não é obrigado a desaparecer quando o significado houver sido descoberto [...] Se o tornar o inconsciente consciente não elimina necessariamente o sintoma, que outro fator deve existir que garanta o seu desaparecimento? Ninguém sabia a resposta.
O analista continuou a interpretar sonhos, atos falhos e correntes associativas, sentindo-se pouco responsável pelo mecanismo de cura."

A partir daí Reich levantou a hipótese de que os traumas que causavam as neuroses se alojariam no corpo do paciente criando uma couraça- uma rigidez física- que impediria o fluxo da energia vital- que ele chamou de energia orgástica, essa couraça era responsável pelos sintomas físicos do disturbio psicológico.

"O que mais me impressionou neste caso (de um paciente) foi o fato de que uma experiência psiquica pode provocar uma resposta somática que produz uma mudança permanente em um órgão. Mais tarde chamei esse fenômeno de ancoragem fisiológica de uma experiência psiquica."

E desenvolveu uma metodologia de manipulação do paciente chamada de "Análise do caráter" na qual através de massagem, exercícios, e movimentos respiratórios ele dissolvia a couraça e liberava o corpo dos sintomas físicos da neurose.

"Por meio de tensões, a musculatura pode obstruir a corrente sanguínea; em outras palavras, pode reduzir o movimento dos fluidos do corpo" (O que seria a causa das disfunções físicas).

"A liberação das atitudes musculares rígidas produzia sensações corporais peculiares nos pacientes: tremor involuntário e contrações dos músculos, sensações de frio e de calor, coceira, impressão de picadas de alfinetes e agulhas, sensações de espinhos, uma impressão de grande excitação nervosa, e percepções somáticas de angústia, cólera e prazer."

"A finalidade [da técnica da Analise do caráter] é liberar os afetos que, em dado momento, estiveram sujeitos a severa inibição e fixação. Isso se consegue soltando as incrustações do caráter. Toda dissolução bem sucedida de uma incrustração de caráter libera primeiro emoções de cólera ou de angústia. Tratando essas emoções liberadas como mecanismos psiquicos de defesa, conseguimos enfim restaurar no paciente a sua motilidade sexual e sensibilidade biológica."

"A neurose não é somente a expressão de uma perturbação no equilíbrio psíquico; é, mais propriamente, em um sentido muito mais verdadeiro e profundo, a expressão de uma perturbação crônica do equilibrio vegetativo e da motilidade natural."

"Para a terapia de Análise do carater, as atitudes musculares assumem também outra importância. Oferecem a possibilidade de evitar, quando necessário, o complicado rodeio pela estrutura psíquica, e de atingir diretamente os afetos a partir da atitude somática. Dessa forma,
o afeto reprimido aparece antes da lembrança correspondente."

Na década de 20 e de 30 Reich propõe de forma científica essa relação de mútua influência entre os mecanismos psíquico e o físico chamada de somatização. Apesar de muito se ouvir falar dela, a relação entre distúrbios psicológicos e disfunções físicas até hoje é muito controversa, agora tentemos imaginar isso naquele tempo, numa época em que a psicanálise era ainda jovem e muito contestada...

Por propor que fossem tomadas medidas profiláticas - uma reeducação sexual libertária das massas- contra os distúrbios psicológicos e seus sintomas , Reich foi expulso da Associação Psicanalítica Internacional em 1932.

* Continuo em breve...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

MULHERES

Eu amo as mulheres, sou apaixonada por elas... sou uma observadora das suas contradições e da sua capacidade de se superar e de surpreender.
Ah, como elas são adoráveis...
Muito se lê e se escuta sobre elas, infelizmente a maioria são comentários levianos, ressentidos...
Campbell no "O poder do mito" me deixou alguns dias pensando... Ele definiu tão bem a coragem feminina, a sua força, a sua firmeza que me deixou emocionada.
Segundo ele conta, na mitologia nórdica os heróis, aqueles capazes de grandes façanhas, ao morrerem iam para um lugar especial, uma espécie de Campos Elíseos... este mesmo local era franqueado apenas a mais um tipo de pessoa, era para lá que iam também as mulheres que morriam no parto.

Eu fiquei pensando... Porque não franqueado a todas as mulheres que tiveram a coragem de ter um filho?
Porque ter um filho, e criá-lo, é mais assustador do que lutar com uma Hidra de Lerna, ou um Cérbero...

domingo, 12 de junho de 2011

A DEFESA E O MEDO...

Esses dias lí um texto chamado "A Defesa" que fala sobre os mecanismos que criamos quando temos medo.
A questão é: Todo mundo tem medo. Resta saber o que é medo causado por um perigo real ou medo causado por um perigo imaginário, ou seja maquinações infinitas da nossa cabeça, como o Othelo de shakespeare.

Segundo o texto quando sentimos medo produzimos substâncias quimicas que nos deixam mais alerta, essas substâncias em pequena quantidade em nada influenciam no funcionamento do nosso organismo, porém em doses altas são tóxicas e nos fazem muito mal, são os conhecidos estados de stress ou de tensão e todas as doenças por ele acarretadas.

Em uma parte do texto o autor fala que a maior parte dos medos é criação da nossa imaginação ou projeção dos nossos traumas. Que fomos machucados uma vez e que agora nos defendemos antes de sermos atacados, ou melhor, antes de sabermos se vamos ou não ser atacados...

Resumindo: Segundo o autor a Defesa existe contra a dor.
Não queremos sentir dor e por isso nos defendemos, sendo agressivos, imprevisíveis, distantes...nos blindamos, nos encouraçamos.
E a mesma couraça que impede o sujeito de sentir dor é aquela que o torna impermeável ao prazer.
OK. até aqui muito simples e óbvio talvez...

E se eu falar que o medo de sentir dor na maioria das pessoas é tão forte quanto o medo de sentir prazer?
Isso o autor não falou...obscuro demais?
*Quem não assistiu "A Professora de piano" que assista...

Só que ninguém fala do medo de sentir prazer...de ser feliz...
de ser bem-aventurado... mas ele existe. e não parece nada óbvio buscar a própria ruína como alguns fazem...


Talvez o medo que faz as pessoas se encouraçarem não seja o medo de sentir dor, ou o medo de sentir prazer...
Talvez seja apenas o MEDO DE SENTIR...

***Assustador não é mesmo?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

FORMIGAS E CIGARRAS...

Eu adoro o Nilton Bonder...ele é transgressor demais:

" Os comentaristas explicam que a formiga [na tradição judaica] é o símbolo do trabalho desperdiçado. Afinal necessitam apenas de dois grãos de trigo para sobreviver uma estação inteira, mesmo assim trabalham incessantemente para juntar uma fortuna."

"A pergunta é: Então fazer o quê?
Muito da riqueza acumulada é falta de saber o quê fazer, ou coisa melhor que fazer."


"Na tradição judaica, a pergunta "O que fazer?"
tem uma resposta: ESTUDAR.

Tempo é algo para ser dividido entre estudo, trabalho e necessidades fisiológicas.
Todo excedente de tempo, uma vez atendidas as necessidades fisiológicas e de trabalho, deve ser destinado ao estudo."

O que se entende por ESTUDO neste caso não é aquele acadêmico ou o tecnicista,
é aquele "dos valores que permitem a um ser humano ser mais humano em sua condição de percepção (insigth) e de compaixão."
Ou seja de conhecer e compreender a sí mesmo e ao outro.

Segundo ele "a cultura deve ensinar àquele que ainda não alcançou os limites de suas necessidades que não é um bom negócio dedicar TODO o seu tempo ao objetivo de conseguir saciá-las." O que seria dizer em outras palavras "nem só de pão vive o homem..."

E ele vai além, quando fala que o nosso tempo- nossa existência- tem como prioridade ser mais e conhecer mais sobre o potencial que somos.

Que todo tempo dedicado à outras atividades quaisquer além dessas também é uma forma de ser e de se conhecer, mas que o tempo dessas outras atividades práticas deve ter limite,
uma vez que a "utilização indevida do tempo destinado às experiências da alma" gera depressão, apatia e falta de sentido que corroem as atividades práticas, desvalorizando-as uma vez que elas se tornam mecânicas.

"Quando trabalhamos mais do que necessitamos para existir produzimos uma existência jogada fora".

*Uau! Não é demais! Dentro da nossa sociedade que valoriza o estudo técnico, a prática e alta produtividade, dentro de um lugar como São Paulo onde todo mundo corre atrás de ser bem-sucedido financeiramente, dentro da comunidade judaica onde essa exigência é maior ainda...o sujeito vem e diz isso...

Segundo ele ESTUDAMOS PARA EXISTIR.

E para finalizar: quem trabalha para acumular para o futuro deveria saber que "ninguém pode ser rico no futuro, pois não há abundância que supra uma escassez que ainda não existe" e completo eu: não há abundância que supra uma escassez que não existe mais...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

NOVOS LUXOS

Esses dias fiquei pensando sobre o que é luxo nos tempos de hoje...

E cheguei à algumas conclusões, bem pessoais é verdade:

- Luxo é trabalhar e poder se sustentar fazendo o que se gosta.
- Luxo é poder trabalhar de calcinha, de pijama, de camisola...pelado se quiser... e levantar e poder tomar um banho como quem vai tomar um café no escritório.
- Luxo é poder dormir muito... e sem barulho de carro, de avião, de britadeira...
- Luxo é não ter telefone celular.
- Luxo é poder fazer tudo à pé.
- Luxo é poder viajar a qualquer tempo sem ter passagem comprada de volta...
- Luxo é poder viajar levando só um cartão de crédito... sem malas, sem extravio de bagagem...
- Luxo é precisar de pouco, mesmo quando se tem muito...
- Luxo é poder viajar e ficar sempre em sua própria casa... dormir na sua cama e usar o seu banheiro...
* Como o Carl Lagerfeld que coleciona casas pelo mundo...
- Luxo é poder estar perto de quem se ama.
Mas acho que o maior luxo de todos é :
Ter tempo livre.
Prá se fazer o que quiser, prá não fazer absolutamente nada...apenas existir.

domingo, 29 de maio de 2011

A LINGUAGEM QUE NOS DEFINE É A MESMA QUE NOS SEPARA

Adoro esse trecho do "Alice através do espelho", a primeira vez que lí chorei muito, compungida ao descobrir que a linguagem verbal que nos coloca a todos dentro do conjunto dos humanos, e que depois nos define como indivíduos, é a mesma que ao expor nossa unicidade expõe também nossas diferenças irrefutáveis e tantas vezes inconciliáveis...
Alice e o cervo enquanto destituídos de seus nomes são capazes de uma amizade sincera...até que se descobrem definidos como cervo e menina...incompatíveis!???

" Logo chegou a um descampado, e do lado oposto havia um bosque. Parecia mais denso que o anterior, e Alice hesitava um pouco em penetrar dentro dele. Todavia, refletindo bem, decidiu-se a fazê-lo:
'pois com certeza eu não quero voltar', disse para si mesma, e aliás, esse era o único meio de chegar à oitava casa.
'Este deve ser o bosque' murmurou pensativamente, 'onde as coisas não têm nomes. E o que vai ser do meu nome quando eu entrar? Não gostaria de perdê-lo de jeito nenhum, pois teriam que me dar outro e é quase certo que seria feio'[...]

Ia devaneando dessa maneira quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito úmido e sombrio.
- 'Bom de qualquer modo é um alívio [...] depois de tanto calor entrar dentro do... dentro do... dentro de quê?'Estava assombrada de não poder se lembrar do nome.[...]
- Ah, então isso terminou acontecendo! E agora, quem sou eu? Eu quero me lembrar, se puder. Estou decidida à me lembrar.

Nesse exato momento ia passando um cervo perto dela, olhou para Alice com seus grandes olhos suaves, mas não pareceu se assustar.
- Vem cá! Vem cá! - disse Alice, estendendo a mão e tentando acariciá-lo. Mas ele saltou um pouco prá trás e ficou parado olhando pra ela outra vez.
- Como é que você se chama? - Disse o cervo, afinal. E que voz suave ele tinha!
'Bem que eu queria saber!', pensou a pobre Alice. Um pouco tristemente, respondeu: - Por enquanto, nada...
- Pense mais um pouco - ele disse- isso não serve.
Alice pensou, mas não adiantou de nada.
- Por favor, pode me dizer como é que você se chama? - indagou timidamente. - Acho que isso talvez pudesse me ajudar um pouco.
- Eu lhe direi, se você me acompanhar até mais adiante.- respondeu o cervo.- Aqui não consigo me lembrar.
Caminharam então juntos pelo bosque, Alice com os braços envolvendo amorosamente o suave pescoço do cervo, até chegarem a outro descampado. Neste ponto, o cervo deu um súbito salto no espaço, livrando-se dos braços de Alice.
- Eu sou um Cervo! - gritou, cheio de alegria.
- E, meu Deus, você é uma criança humana! Uma súbita expressão de pavor surgiu nosseus belos olhos castanhos, e no mesmo instante, como uma flecha disparou a toda a velocidade.

Alice contemplou sua fuga cheia de aflição, com lágrimas nos olhos por ter perdido tão repentinamente o seu pequeno e querido companheiro de viagem.
-'Em todo caso, agora já sei meu nome. Já é algum consolo. Alice...Alice...Não vou me esquecer outra vez.' "

Lewis Carroll- Através do espelho e o que Alice encontrou lá.

A linguagem quando nos define como, brancos, negros, pardos, como muçulmanos ou cristãos, como ricos ou pobres...ela realmente nos separa em classes em seguimentos em caixotes...
Mas se atentarmos que toda definição é uma abstração, uma colocação forçada num conjunto que é imaginário, que não existe realmente, que generaliza o que só existe no mundo como algo único, por exemplo, menina é generalização imaginária e impossivel de existir na realidade, ela se refere as milhões de crianças de tal a tal idade do sexo feminino...todas diferentes umas das outras...

Então na verdade encontramos apenas indivíduos e objetos únicos, que não se repetem, e que são portanto extraordinários. E nesse universo de jóias preciosas, Alice, que tem pintinhas no nariz e é filha da D. Joaquina e do Seu josé, que tem um irmão chamado Pedro....pode sim ser amiga do cervo que tem a cor castanho dourada, que tem uma orelha mais escura que a outra...entendeu?

sábado, 14 de maio de 2011

ALEM DA FUNÇÃO DE COMUNICAR, A LINGUAGEM HUMANA TAMBÉM FUNCIONA COMO DEFESA.

"A palavra falada esconde a linguagem expressiva do núcleo biológico. Em muitos casos, a função da fala deteriorou-se a tal ponto que as palavras não expressam nada e apenas representam uma atividade, vazia e continua, por parte da musculatura do pescoço e dos orgãos da fala."

IN Análise de caráter , Wilhelm Reich.

domingo, 8 de maio de 2011

CONTRATOS PESSOAIS

Esses tempos atrás quando eu fazia terapia minha terapeuta disse que todos os casamentos deveriam ter contratos com cláusulas, e registrados em cartório, para que a gente pudesse relembrar depois do que acordou. Eu fiquei chocada!
E muito tempo se passou até que me chegou nas mãos o livro "A cabala do dinheiro" do Nilton Bonder. Neste livro ele fala sobre o mercado de trocas ou sobre a economia que rege os mercados interpessoais.

A partir daí eu concluí que:
Toda relação é uma troca.
(E não apenas os casamentos...)
*Seja qual relação for: financeira, de conhecimento, emocional...
**Se estamos trocando, estamos oferecendo algo e esperando algo de volta, assim como nosso companheiro de transação. Nada mais natural...
***Os problemas começam quando não se sabe o que se quer da troca.
O que se quer dar e o que se quer receber.


Sem esclarecer essas questões fica impossível sair satisfeito de uma transação.
Perde-se tempo, gasta-se o tempo do outro e pode-se acabar em conflito.


Por isso os "contratos" são tão necessários, não estes de papel, mas todos: é importante deixar claro o que está sendo acordado, quem dá o quê, quem recebe o quê e se ambos estão em comum acordo.

Parece burocrático, frio? Mas não é... Na verdade fazemos isso o tempo todo sem perceber, prestando atenção faremos melhor e evitaremos perdas e desgastes.

LUCRO?

"Deve-se tomar muito cuidado, pois lucro pode ser mera imaginação.
Lucro hoje que gera prejuízo amanhã não representa riqueza,
ao contrário, é um duplo trabalho desperdiçado."


IN A cabala do dinheiro de Nilton Bonder.
* Pois é, isso é bem engraçado, o trabalho que eu mais ganhei na vida foi um trabalho que me tirou muito mais do que deu, no fim das contas. O desgaste emocional, físico, psicológico foi tão grande que hoje eu penso bem ao decidir se vou topar um trabalho ou não... É tão bom quando um trabalho traz além da recompensa material, riqueza espiritual, emocional!

sábado, 7 de maio de 2011

AUTO-REGULAGEM. VOCÊ É CAPAZ ?

"A contradição aguda entre EU QUERO e NÃO DEVO eliminou-se e foi substituída por algo como:
EU GOSTARIA MUITO, REALMENTE,

MAS ISSO TERIA PEQUENA SIGNIFICAÇÃO PARA MIM:
NÃO ME FARIA FELIZ."

In A função do orgasmo de Wilhelm Reich.

* Hoje a pergunta que me faço todos os dias não é: "Eu quero isso?" Mas sim: "Isso me faria feliz?"
E na maioria das vezes uma coisa não é a mesma coisa que a outra, as respostas não coincidem...

FORMAS DE MATAR ALGUÉM...

Esses dias alguém me contou que uma amiga tinha levado um fora do marido depois de 20 anos de casamento, que ele tinha alegado que não a amava mais, tinha pegado suas tralhas e ido embora prá tentar ser feliz. Minha amiga disse que a moça ficou arrasada. Bom, eu também ficaria...por 5 minutos. Mentira... por umas 4 horas.
*Posso afirmar porque comigo foi assim que aconteceu...

Eu sempre tive o hábito de fazer um trato com as pessoas com quem me relacionava: sempre pedi que fossem embora, não importa o que estivesse acontecendo comigo, se elas não me amassem mais. Que fossem egoístas não pensassem no meu sofrimento, que olhassem bem no fundo do meu olho, dessem o veredito: EU NÃO TE AMO MAIS, e fossem embora. Nem precisava explicar o porquê, esse tipo de coisa acontece sem a gente saber porque...então ficar procurando explicação do inexplicável... pode ser que uma mosca verde tenha rodado três vezes sobre a cabeça do caboclo e pronto, "não te amo mais", e aí essa explicação vai colar? Mesmo que seja a mais pura verdade?
Agora o que eu nunca abri mão foi do "olho no olho", coisa de "macho", entende?
*É terrivel prá quem fala, é terrivel prá quem escuta, mas tem que ser feito prá bem de ambos, porque a a nossa memória modifica os fatos; como uma montagem de cinema cortamos coisas, alteramos a ordem, alongamos algumas cenas e colocamos quem sabe uma trilha sonora ao nosso gosto do momento, então quanto mais clara for a cena melhor, menos poderemos alterá-la ao sabor dos nossos humores.

Mas porque estou falando tudo isso?
Porque uma das formas mais cruéis e mesquinhas, e pior, frequentes de matar alguém é gastando o tempo dessa pessoa.
Se você não tem nada prá dar a ela, ou não quer dar nada, e ela não tem nada que possa te interessar... Vá em frente, siga seu caminho! Dê lugar prá quem tenha!


Quem fala disso maravilhosamente bem é o rabino Nilton Bonder no seu "A cabala do dinheiro".
Ele fala que gastar o tempo do outro é um roubo, passível das mesmas punições e carmas negativos.
PORQUE TEMPO É VIDA.
E se você está matando o tempo do outro, na verdade você está ocupando um espaço, impedindo o outro de ser feliz ou de procurar sua felicidade em outro lugar, em suma: você está matando essa pessoa.


"O roubo de tempo é representado pelo adiamento da resolução de uma situação para o dia seguinte, quando sabemos que não haverá qualquer possibilidade de alteração ou mudança que justificasse a protelação. Porque não respondemos de imediato, até mesmo reconhecendo ignorância, não habilitação ou até mesmo falta de interesse? Adiamos algo sem razão alguma e tomamos tempo de alguém. Essa é uma enorme tragédia particular do indivíduo e de seu Mercado."

O roubo de expectativas: "Se agimos só para agradar ou motivados por qualquer outra razão com o intuito de criar expectativas[...]" ou se jogamos com a expectativa de alguém, no sentido de permitir a essa pessoa jogar um jogo que sabemos ela não tem chance de ganhar.

O roubo de informação: "Se você sabe de alguma informação que é importante, deve compartilhá-la".

**E eu fico pensando: quantos assassinatos desse tipo nós já cometemos? Por infantilidade, capricho, vaidade? E o quanto de mal isso causou... E quantas vezes nos mataram também, roubando o nosso tempo através de expectativas que não podiam ser cumpridas, de apostas com cartas marcadas, da sonegação de informações que podiam nos facilitar a vida?

Hoje eu sou assim: Não gasto o tempo de ninguém, não aceito que gastem o meu. Não temos nada prá trocar? Vamos procurar alguém que tenha. Falo numa boa, direta e sem constrangimentos...

Daí eu posso apenas pensar que essa moça, não importa o sofrimento que teve ou está tendo, deveria abençoar esse sujeito todos os dias! Porque ele abriu prá ela as portas da felicidade, saiu, caiu fora, deixou o espaço vago, prá todas as possibilidades melhores e mais maravilhosas da vida chegarem e se instalarem!!!

Como dizia aquela música do Chico Buarque:

"Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você."

Agora desculpa, mas o único risco dela, e o meu, é ser feliz...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

FALAR EM EXCESSO

Tenho pensado muito ultimamente sobre a questão do excesso.

A nossa sociedade atual parece se colocar na antípoda da sociedade castradora do séc. XIX, onde tudo era podado e controlado.
Soltamos a franga e agora podemos tudo!

O que não percebemos é que a estimulação ao excesso é também uma forma de controle ou castração. Foucault fala disso. E isso não se restringe apenas às questões sexuais, vai além, infelizmente.

Se antes o indivíduo tinha uma dificuldade causada pela castração social de verbalizar os seus sentimentos, e os seus pensamentos acerca das questões que o afligiam, hoje é o oposto: O indivíduo fala demais e com isso causa problemas que antes não existiam. A ausência de uma membrana semi-permeável entre o pensamento e o que se verbaliza causa a aberração de uma enxurrada sem fim de palavras, a maioria delas vazias, desimportantes e desnecessárias.
O que o se conclui é que:

É tão importante esquecer quanto lembrar.
É tão importante calar quanto falar.

Se você fala, fala, fala... vai lembrar , lembrar, lembrar... é como um animal que lambe suas feridas até o outro lado do corpo e só vai aumentando a região lesionada...

* Tem uma prova que adoro submeter meus amigos, mas a que infelizmente nem todos passam: é a prova do silêncio. Da intimidade tão grande que não é preciso falar nada, os sentimentos, as sensações, a felicidade ou a tristeza são compartilhados de uma forma não-verbal, e não há o menor constrangimento.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

SOFISTICAÇÃO SEXUAL X MATURIDADE SEXUAL

Alexander Lowen um discípulo do Reich, escreveu "Amor e Orgasmo" um livro com um título infeliz que remete àqueles famigerados manuais de sexo para casais iniciantes que ele mesmo deplorava. O livro é muito mais do que isso, ele antecipa questões (o livro é de 1965) que hoje estão acentuadas no comportamento sexual e principalmente nas relações entre as pessoas.
Mais do que tratar de sexo ele trata de psicologia, de como o a cabeça influi no corpo e na recepção do prazer, e de como esse caminho é de ida e volta.
A primeira questão que ele traz no livro já dá o que pensar:

SOFISTICAÇÃO SEXUAL X MATURIDADE SEXUAL

Hoje a questão da sofisticação sexual se alastrou, reagindo à um passado de proibição e restrição do comportamento sexual, e o que se vê agora é o inverso: é preciso fazer sexo com muita frequência, é preciso gostar de sexo sobre todas as coisas, e é preciso experimentar todas as variações de parceiros e de técnicas, e gostar disso, caso contrário corre-se o risco de ser considerado problemático sexualmente.
Seria então o homem moderno um "acrobata do sexo" ou como ele diz um "performer", aquele cujo comportamento sexual visa impressionar a sí próprio e aos outros:

"O desempenho é mais importante do que as sensações, os sentimentos e as vivências."

"O elemento sexualmente sofisticado considera o ato sexual um desempenho e não a manifestação de sentimentos pelo parceiro sexual."

"É legítimo suspeitarmos que a moderna sofisticação sexual seja um disfarce que encobre e oculta a imaturidade, os conflitos e as ansiedades sexuais."

"A sofisticação sexual é uma tal barreira à maturidade sexual que deve ser eliminada para que nossa liberdade sexual possa chegar ao prazer e à alegria de viver e de amar."

Já naquela época Alexander Lowen identificou: os nossos atletas do sexo não são felizes sexualmente. Segundo ele há um grande contingente de homens e mulheres "sofisticados" sexualmente e muito pouco satisfeitos ou felizes com o sexo.

PORQUE SEXO NÃO É ESPORTE.
* É perigoso demais- falando de integridade física (ops, tempos de aids, de papilovirus...) e emocional.
SEXO É UMA EXPRESSÃO DE AFETO.
* Lowen coloca "amor", mas como isso parece remeter ao amor romântico, à paixão...preferí mudar para afeto, que parece para mim algo mais amplo que estar amando, algo mais ligado à carinho e intimidade.

"A plena realização sexual não pode ser alcançada com o uso, ou pela prática de técnicas sexuais especiais. Ao contrário: ela resulta de um modo de viver, da experiência de uma personalidade madura. Há uma grande necessidade de se compreender a sexualidade como uma expressão emocional."

Já a MATURIDADE SEXUAL se inicia com uma consciência global do corpo, da sua saúde, dos seus níveis energéticos, mas ela é caracterizada realmente pela compreensão de que a sexualidade é uma expressão física, emocional, e por que não espiritual?
Porque sexo não se restringe apenas ao corpo e às reações físicas decorrentes de estímulos sensoriais.

O ato físico do sexo, envolve a experiência emocional e espiritual de aproximação com o parceiro, de vir a conhecê-lo, de criar intimidade.

Toda visão de apenas uma faceta do indivíduo é empobrecedora, seja ela sexual, ou espiritual ou emocional. O sexo faz as pessoas ficarem juntas fisicamente, mas é impossível dissociar o corpo, do sentimento e do espírito pois somos seres complexos.

.

domingo, 17 de abril de 2011

NÃO JULGARÁS

Acordamos pensando e dormimos pensando, e no nosso mais tolo pensamento há um julgamento de valor...
Na nossa cultura ocidental somos instados a fazer julgamentos o tempo todo, bom ou ruim, feio ou bonito, isso ou aquilo... enfim temos que emitir uma opinião sobre tudo e sobre todos... sempre.
E isso é muito desgastante.
A questão é a seguinte:
Todo julgamento é um gasto de energia.
E todo julgamento é uma turbulência na mente, porque é uma contenda à ser resolvida.
Logo, exercitar o não-julgamento é se permitir não ter opiniões formadas sobre algo.
É dar um descanso para a mente.
É sair da posição de onipotência do julgador e simplesmente se colocar na posição de humildade de quem não tem as respostas, e na posição menos cansativa também de alguém que não é sabedor...
Então, RELAXE e NÃO JULGUE...

ACHAR-SE É CONSTRUIR IDENTIDADES E LIVRAR-SE DELAS...

Nilton Bonder

Mas como é difícil...

sábado, 16 de abril de 2011

POR UMA METODOLOGIA DE ESTUDO LIBERTÁRIA

Li este trecho do Campbell e embora ele tratasse de outra questão, me pareceu tanto que ele explicava uma metodologia individual de estudo, pautada unicamente pelo interesse do leitor...

" Sente-se numa sala e leia- leia, leia, leia. E leia os livros certos escritos pelas pessoas certas. Sua mente será levada a esse nível, e você terá, o tempo todo, um enlevo agradável, suave, cálido. Essa compreensão da vida pode ser uma constante em seu viver. Quando você encontrar um autor que o prenda de verdade, leia tudo o que ele escreveu [...] Depois você poderá ler o que ele tenha lido. Então o mundo se abrirá em coerência com um certo ponto de vista."

...me fez lembrar metodologia libertária de ensino da escola Summerhill e das aulas do grande professor Raul Antelo, e de uma maneira não linear de estudo e de ensino, uma maneira na verdade muito natural de adquirir o conhecimento, mais próxima do tridimensional e do quadridimensional, onde o tempo e o espaço- o movimento e sua velocidade são mais importantes. Não há um encadeamento linear ou causal, há sim um encadeamento muito mais orgânico, irregular e espontâneo dos assuntos estudados...

Muitos me perguntam como eu fiz para adquirir os conhecimentos que adquirí que não são específicos de uma área e nem unicamente acadêmicos, não que eu seja nem de longe um ser cultíssimo, mas posso afirmar que sou uma criatura viva, que tem olhos para ver, e vê, tem ouvidos para ouvir e ouve, tem boca para degustar e degusta...
Resolvi então relembrar brevemente como se deu o meu processo de aquisição do conhecimento, acho que se parece com um jogo de tabuleiro desses que tem casas tipo "Jogo da vida" ou algo assim.
Algumas observações que podem ajudar:

- Alguns autores ou obras fazem você andar muitas casas, outros deixam você de molho na mesma casa pensando até poder amadurecer e jogar de novo.
- Em algumas casas você não encontra obras nem autores, mas grandes mestres que fazem com que uma série de caminhos novos e interessantes surjam na sua frente e você vai seguindo...
- Existem livros e assuntos que você procura, e existem aqueles assuntos cujos livros te acham e te fazem levá-los para casa alegremente, esses são os mais perigosos...é o destino...
- Existem assuntos de estudo agradáveis, existem assuntos indigestos mas necessários.
- Muitos autores e obras acompanham os acontecimentos da nossa vida, mais densos, mais fluidos...
- Existem alguns assuntos de estudo que são só prá dar prazer, pura fruição...se dê ao direito de vez em quando, ou de vez em sempre.
- Não tenha preguiça. quem está buscando conhecimento caminha e caminha e nunca termina de caminhar, até porque a gente só deixa de aprender quando morre.
- Seja humilde, pergunte. não tenha medo de não saber, se for um grande mestre, ele sabe que ninguém tem obrigação de saber tudo, todo grande mestre tem o coração grande, generoso, te pega pela mão e ensina.
- Mas nem sempre temos um grande mestre ao nosso lado, mesmo assim prossiga com perseverança, mesmo com os passos pequenininhos você está progredindo, mais cedo ou mais tarde você pega uma obra ou autor bônus e anda 3 casas numa rodada só...
- O que importa é que o assunto de estudo seja de seu interesse, se é difícil ou fácil, se é agradável ou desagradável, se é útil ou só prazer...desde que te diga respeito de alguma forma.
- Esteja preparado para abrir mão de coisas materiais para estudar. Tempo livre para estudo custa dinheiro, livros custam dinheiro, consumir cultura custa dinheiro.
- Estudar demanda tempo afastado de tudo, marido, filhos, familia, amigos, bichos, do mundo circundante. Daí a questão: você gosta realmente de estudar? Porque se gostar vai ser um tempo maravilhoso só seu, de puro deleite pessoal e intransferível, mas se não gostar vai ser uma cela solitária...
- Estude quantos assuntos quiser ao mesmo tempo. Se você está estudando algum assunto doloroso, paralelamente se dê ao direito de assimilar também algo leve. Se está lendo muita teoria, busque algo muito poético prá contrabalançar...
- Se dê ao direito de ler apenas aquilo que te interessa, pule capítulos, ou faça a tal "leitura dinâmica" deles e vá para o ponto em questão. Leia do começo pro final, do meio pro começo... não se obrigue a ser linear, já fizeram isso com você na escola. E lembre-se: às vezes lemos um livro inteiro por conta de um parágrafo, mas esse parágrafo pode mudar a sua vida...
- Se dê ao direito de não gostar de algo que leu e de exteriorizar a sua opinião.
Eu não gosto de Thomas Mann por exemplo não importa o quanto digam que ele é maravilhoso prá mim é um saco...
- Para quê exatamente vc. quer estudar? Auto-conhecimento, conhecimento do mundo, vaidade, auto-afirmação, ambições materiais...Descubra, porque alguns motivos são capengas e não valem o trabalho, porque dá muito trabalho estudar...

- Por fim: Ensine. Seja generoso. Passe prá frente o que aprendeu, não retenha e não barganhe conhecimento.

sábado, 9 de abril de 2011

TRAGÉDIA, MIASMA E CARMA...

Vamos partir do pressuposto que eu não sou especialista em cultura grega e em Tragédias, ok?

Vamos começar pelo carma: Na nossa cultura fala-se muito de carma ruim, mas a lei do carma na verdade afirma que "colhemos o que plantamos".
Existe carma ruim e carma bom, e você pode ao agir tornar bom um carma ruim...e vice-versa.
Eu vejo o carma como um reflexo daquela lei física da ação e reação...

Já o miasma é uma espécie de "vapor", mas eu colocaria como efluvio daqueles que possuem uma doença altamente contagiosa...como a lepra nos tempos antigos, a cólera, a tuberculose nos séculos passados...
É uma espécie de nuvem que acompanha o doente contaminando tudo por onde ele passa.

Nas tragédias gregas o herói comete um erro grave que vai gerar uma série de infortúnios posteriores para ele e para os seus entes queridos. Esse erro pode ser causado pela vaidade, pela ganância, pela imprudência, pelo desejo... ou mesmo pela tentativa de driblar um destino que já tinha sido anteriormente traçado prá ele.

Funciona mais ou menos assim:

1-O herói trágico comete um "crime".
*O que se entende por crime é qualquer ação que tenha consequências nefastas na vida de alguém, diretamente ou indiretamente.
2-A partir desse momento esse herói passa a carregar consigo um miasma. É uma espécie de nuvem de infortúnio contagiosa- assim acreditavam os gregos:
"Pela herança maldita que carrega [...] Imundas, imundando tudo aquilo em que ele tocar;
Não poderá compartilhar banquete ou libação [...]
Homem algum jamais há de acolhê-lo, ou com ele dormir na mesma casa.
Zombado, desprezado, solitário
Chegará afinal a morte horrível"
IN Agamenon de Ésquilo
3-Após um sem fim de encadeamentos de ações ocorre a punição do autor do erro trágico e daqueles que a ele estão ligados.

* Como as peças de um dominó uma atrás da outra formando um circuito, o movimento se inicia quando o herói comete o erro trágico - isto é derruba a primeira peça- acabando com o equilíbrio do sistema e fazendo todo ele começar a ruir sequencialmente até que a destruição chega ao ponto de onde se iniciou a ação, derrubando o herói. A ação sai de um ponto e retorna à ele encerrando então seu ciclo.
* Agora por que também sofrem os próximos, os entes queridos do autor da má ação?
Explico: porque o autor trágico sabe que alguém que cometeu um crime, muitas vezes não se importa tanto em pagar por ele, mas fica mortificado se um dos seus, principalmente se for inocente, sofrer com as consequências da sua má ação, ou erro nefasto.

Tenho me perguntado ultimamente se os heróis trágicos não estão mais perto de nós do que imaginamos... Ao assistir ao filme "Sobre meninos e lobos" do Clint Eastwood, me dei conta dessa assustadora proximidade.
Eles não estão apenas na Grécia antiga, ou nas tragédias de Shakespeare, eles estão em nós, na vida dos nossos pais, amigos, parentes e conhecidos...
O que quero dizer é que a cada ação nossa corremos o risco de cometer um erro trágico, corremos o risco de criar um carma negativo que vai não apenas nos prejudicar, mas também àqueles que nós amamos...
Uma forma de diminuir esses riscos é fazer escolhas conscientes.


Segundo Deepak Chopra ao escolher ações que levam o máximo de felicidade para sí e seu entorno o indivíduo tem grandes chances de estar na direção de um carma positivo-para todos.

Essa também é a questão dos miasmas, se estamos em contato com alguém que está envolvido com ações que resultam em um carma negativo, ou seja um erro trágico, é bem provavel que em algum momento uma gota de sangue ou sujeira respingue em nós.

O CORPO SAGRADO E O CORPO PORNOGRÁFICO

Aprendí nessas longas jornadas da vida a considerar todo corpo como sagrado.
E que todo corpo de mulher é mais sagrado ainda.
Bom, pode ser porque eu sou mulher e escrevo a partir dessa condição sempre...enfim nada a fazer sobre isso...
Mas o fato é que para mim todo corpo é um templo, e um corpo que pode abrigar, nutrir e desenvolver um outro corpo é desta forma um templo duas vezes.

Muitas metáforas trazem o corpo humano com lugar sagrado, mas em alguns momentos da história as medidas do corpo humano, suas proporções, foram utilizadas como modelo para construções arquitetônicas, principalmente de templos quem quiser saber mais sobre isso que procure os tratados de arquitetura de Vitrúvio.
*Ele que viveu no séc. I a.c foi o criador daquele desenho que tornaria célebre Leonardo da Vinci- do corpo humano dentro de um círculo e de um quadrado. No renascimento seu texto foi traduzido e influenciou as construções da época e posteriores. O meu mestre supremo- o professor Raul Antelo da UFSC deu uma aula maravilhosa sobre entre outras coisas- Vitrúvio.

Em muitas religiões - um Deus, ou Deus- habita cada corpo de homem e cada corpo de mulher e ofender essa morada é ofender o Deus que alí habita.

Eu costumo observar mais as mulheres, talvez pela minha necessidade de compreender afinal o que é esse mistério de ser mulher, e eu vejo essas mulheres na praia, no vestiário da academia... e seus corpos, tão diversos em tamanho, cor, idade...muitas são gordas, outras nem tanto, outras magras, outras peitudas, outras sem peito, malhadas, jovens , velhas, recém saídas da infância... Todos esses corpos sem exceção me parecem sagrados - eles soam como variações, reflexos da mesma divindade feminina que gesta, pari, alimenta tudo o que existe no universo, inclusive filhos.

É tão estranho pensar que todas essas nuances do divino se apaguem quando você tem um corpo pornográfico...

A principal característica da pornografia, seja qual for ela, é destituir o indivíduo de sua completude e singularidade.
Parte- se o indivíduo extraindo dele apenas o corpo.
Mas o que é um templo que não é habitado por Deus? É uma casa morta, e uma casa vazia não tem razão de ser...

Ao criar uma imagem pornográfica de alguém o processo que ocorre é o de tornar vil o que é sagrado.
A pessoa passa a ser algo e não alguém, ou seja um objeto, como uma mesa, uma cadeira, um sapato...

Isso é mais grave ainda se levarmos em conta que o ser-humano tem o costume de humanizar objetos, atribuindo-lhes características emocionais ao associá-los à sentimentos ou fatos de sua vida, tornando o seu meio circundante mais caloroso e empático.

Portanto ao tornar uma pessoa uma imagem pornográfica torna-se ela menos que um objeto. Torna-se ela um nada, um ser vivo caminhante, falante, mas que é como um zumbi, um morto-vivo.
* Essa destituição do humano do que lhe é mais característico ocorreu nos campos de concentração como descreveria Agamben no seu livro "O que resta de Aushwitz".

Curiosamente na atualidade as pessoas tem mais e mais interesse por pornografia. Se antes ela parecia de interesse apenas dos homens- heteros e gays- agora são as mulheres que buscam essa indústria do sexo. Claro que as mulheres querem explorar todas as possibilidades que antes eram apenas dos homens, mas eu me pergunto: Será que precisamos mesmo? E será que os homens precisam também? Será que a excitação deles por essas imagens é real?

Todos os homens que eu conheci na vida gostavam de pornografia, gays, heteros, solteiros, casados, jovens, velhos... podiam esconder que gostavam por uma questão de falso decoro, mas gostavam e em algum momento isso aflorava.
Agora eu é que nunca entendí porquê, qual a graça que eles viam naquilo tudo...e olha que eu tentei, e tentei e cheguei a conclusão que prá mim aquelas pessoas da industria do sexo que eram apresentadas como objetos nunca deixaram de ser mães, irmãs ou fillhas de alguém... eu sempre pensei nelas com filhos prá criar, com contas prá pagar, com carências, sonhos...na verdade eu sempre pensei nelas como pensava em mim mesma...

Todo ser humano tem uma história, tem um caminho, tem um dom a realizar... e todo corpo traz essas marcas em sí...
E todo ser humano tem seu mistério, suas aguas profundas, das quais a gente só consegue perceber reflexos...
Então como querer que uma pessoa seja apenas um objeto?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O SUCESSO E A BEM-AVENTURANÇA

Estou lendo, muito tardiamente é verdade, a obra do Campbell, e no seu "O poder do mito" ele fala da diferença entre SUCESSO e BEM-AVENTURANÇA, seria mais ou menos assim:

Segundo ele, existe a imagem da Roda da Fortuna, aqueles que estão no sucesso são os que se encontram na parte de cima da roda, e aqueles que estão no infortúnio, os que se encontram na parte inferior. Porém pelo fato de ser móvel- uma roda, a lei natural é que quem está em cima caia e quem está embaixo suba e assim sucessivamente...
Diferentemente acontece com aqueles que possuem a bem-aventurança, pois estes se encontram no eixo da roda, assim ela pode rodar e rodar e a situação deles é estar no centro.

Logo Campbell pergunta:
Você quer se dedicar ao sucesso ou à bem-aventurança?

Para quem está em busca da bem-aventurança há uma espécie de força que ajuda, mãos invisíveis abrindo portas, é como nadar a favor da maré:

"Persiga sua bem-aventurança e não tenha medo, que as portas se abrirão, lá onde você não sabia que haviam portas."

* É por isso que Deepak Chopra diz que devemos permitir a ação destas "mãos invisíveis", não devemos tomar tudo do nosso destino nas nossas mãos, mas apenas aquela parte que nos cabe.

** "E quem não tem esse tipo de apoio?" Pergunta Campbell em um certo momento, e eu afirmo que quem não tem esse apoio é porque não aceita tê-lo, quem não aceita a graça, o milagre...Bem, continua Campbell "esse é o tipo que evoca compaixão, o pobre coitado. Vê-lo tropeçando, desajeitado, quando todas as águas da vida estão exatamente alí, ao alcance da mão, realmente desperta piedade."

E como a gente sabe se está no caminho certo?

"Onde quer que você esteja, se estiver no encalço da sua bem-aventurança, você estará desfrutando aquele frescor, aquela vida intensa dentro de você, o tempo todo."

sábado, 2 de abril de 2011

A DISTRAÇÃO E OS CRIMES MORAIS

Hannah Arendt tem um livro que considero primoroso "Responsabilidade e Julgamento"- nele ela destrincha (exatamente este termo) as cabeludíssimas questões morais que assombram boa parte da humanidade.

Para ela, o homem não é apenas um, mas dois coexistindo no mesmo corpo, há aquele que age e há aquele que, de dentro, vê e julga:

"Falo comigo mesmo[...] e embora eu seja um só, sou dois-em-um, e pode haver harmonia ou desarmonia com o eu."

"Se discordo de outras pessoas posso me afastar; mas não posso me afastar de mim mesmo, portanto, é melhor que eu primeiro tente estar de acordo comigo mesmo antes de levar todos os outros em consideração."

* Essa é a grande questão, não há como fugir de sí mesmo, não há como partir a cabeça, tirar a consciência ou o "grilo-falante" e guardá-lo em um pote no fundo de um armário.

"Assim como sou meu parceiro quando estou pensando, sou minha própria testemunha quando estou agindo. Conheço o agente e estou condenado a viver junto com ele. E ele não é calado."

"Se estou em desavença com meu eu, é como se eu fosse forçada a viver e interagir diariamente com meu próprio inimigo."

"Se pratico o mal, vivo junto com um malfeitor [...] e ninguém vai preferir viver junto com um ladrão, um assassino ou um mentiroso."

* Logo podemos deduzir que a vida, quando não há uma concórdia entre essas duas pessoas que habitam um mesmo corpo, se torna um inferno.

Hannah afirma ainda que é este diálogo interno silencioso que nos distingue dos animais.
É a linguagem sim, mas usada de uma forma reflexiva
, afinal os animais se comunicam entre eles de alfguma forma- não verbal...

Segundo ela a única forma de fugir do conflito entre o eu que age e o eu que observa ao se cometer um crime moral é esquecer que o se cometeu.
E como se esquece? Através de uma constante distração...
Distraídos é assim que podemos chamar os moralmente inconsistentes...
Eu ferí por distração... eu me apropriei do alheio sem me aperceber... eu cometí um crime por acaso... sem intenção de...

Sem intenção maldosa e sem prestar muita atenção aos delitos que vão cometendo esses indivíduos dúbios vão caminhando e deixando às suas costas uma terra arrasada, exaurida, desolada...e tudo isso justificado por -apenas- DISTRAÇÃO.

DINHEIRO É ENERGIA CONGELADA, E LIBERÁ-LA É LIBERAR AS POSSIBILIDADES DA VIDA

Joseph Campbell

SUCESSO COMO TRAJETO E NÃO COMO OBJETIVO

"O sucesso na vida [...] encerra muitos aspectos, dos quais a riqueza material é apenas um.
É uma viagem e não um destino.
A abundância material, em todas as suas expressões apenas torna a viagem mais agradável."


Deepak Chopra

sábado, 26 de março de 2011

O ERRADO DA MANEIRA CERTA

Vou citar aqui o blog maravilhoso da Beatriz del Picchia e da Cristina Balieiro - O Feminino e o sagrado:

"quando a gente tenta fazer um Caminho que não é o nosso, as coisas tendem a dar errado – ou, ainda pior, a dar certo da maneira errada."

Elas escreveram isso estes dias e materializaram verbalmente algumas questões que mordiam meu calcanhar já faz um tempo:

Primeira: Que é possível estar no caminho errado, mesmo quando tudo dá certo.
* O que é realmente bem pior pois fica mais difícil de corrigir o rumo.
Mas como, se dá tudo certo, as coisas estão erradas? A resposta é: Porque não se está feliz, pleno.
Porque se chegou aonde se queria chegar e não se está feliz, e aquilo que se desejou com tanto fervor e que se perseguiu com tanto empenho não foi capaz de manter alguma satisfação que durasse mais que 2 minutos...

Segunda: Que é possível chegar ao desejado a partir de um erro.
Um maravilhoso erro que nos faz saltar muitas casas para frente e atingir não o nosso objetivo, mas um lugar muito melhor e mais interessante do que aquele que desejávamos na nossa inteligência de formigas prepotentes...

Voltamos `aquela questão: É mais importante o objetivo ou o caminho para chegar lá?

AMA TEUS INIMIGOS PORQUE ELES SÃO OS INSTRUMENTOS DO TEU DESTINO

Joseph Campbell in O poder do mito.

domingo, 20 de março de 2011

VOCALIZE SEUS SENTIMENTOS!

"Querida, você é transparente, cristalina. Você não pode continuar assim.
As pessoas olham prá você e sabem o que você está sentindo.
Quando elas não sabem você ainda faz questão de dizer!
As pessoas tem certeza do seus sentimentos e de como você vai agir...elas tem muita segurança...
Isso é errado porque te torna muito vulnerável.
Você precisa se proteger..."


Quando eu escutei isso de uma terapeuta, que diga-se de passagem me ajudou bastante e não era uma incompetente, fiquei imaginando que esse discurso era exatamente o que se espera de nós no mundo atual, e ela de alguma maneira estava querendo me inserir socialmente e me poupar de penas futuras.

Uma vez crianças, transparentes e cristalinos, vamos crescendo e escutando:

"Proteja-se."
"Camufle seus sentimentos."
"Use a incerteza sobre quem você é e como você se sente para estar à frente do outro, para dominá-lo, subjugá-lo."

Lá pelas tantas...nas estradas da vida, percebemos que ninguém nos conhece, nem nós mesmos, nem sabemos das nossas virtudes e nem das nossas fraquezas; e que estamos sós, emparedados, cimentados na nossa armadura de proteção. Então passamos a fazer cursos, terapias e massagens e o diabo-a-quatro prá quebrar a nossa casca dura, que empedrou pela sobreposição de camadas ao longo de anos...um verdadeiro trabalho arqueológico!

Eu sempre tive uma certa dificuldade de mascarar meus sentimentos e isso era um demérito social, digamos assim...
A camada que separa o meu interior do que eu projeto para as pessoas exteriormente é fina, mole e transparente. Se eu estou alegre eu canto, rio, brinco, se estou chateada com algo, fico mofina, está estampado na minha cara e eu não tenho receio de dizer o porquê.
Mas também se eu não quiser dizer eu digo: "Eu não quero falar sobre isso agora", ou "Eu não quero falar disso nunca"...

Parece coisa de criança... mas é!
Precisamente: coisa de criança.
Não ter vergonha de vocalizar!!!
Expor o que se está sentindo, da mesma forma que se expõe as necessidades básicas, "estou com fome", "estou com sono", "preciso ir ao banheiro"...


Diversamente do que pregam por aí, sempre gostei de sinalizar prás pessoas como eu estou me sentindo em relação às coisas porque acredito que facilita, afinal ninguém é adivinho, vidente...

E as pessoas podem achar que é com elas o problema e simplesmente não é...Porque então não aliviar o outro de mais uma preocupação?
Ou porque não dar ao outro a satisfação de saber que algo que ele fez nos deixou feliz, foi importante pro nosso crescimento, sei lá...
Ou o contrário, porque não deixar claro pro outro que é ele o responsável pelo nosso pesar, para que ele se corrija, ou aceite por fim ser catapultado das nossas vidas por justa causa?

Quanto a isso me tornar vulnerável, desprotegida...
Para quê você precisa estar protegida se não há um conflito em vista?
Ou se você pode desarmá-lo antes, exteriorizando seus sentimentos e posicionamentos?
E se você for atingido? E se cair? Qual é o problema nisso?
Quantas vezes nós caímos?
Quantas vezes nos levantamos e retomamos a caminhada?


A pior dor é aquela de quem não sente nada, nem dor.


* Uma água-viva não se espatifa em mil pedaços, ela é mole e se você enfia cruamente o dedo dentro dela e aperta, quando o dedo é retirado ela volta a sua forma antiga com menos cicatrizes do que quem ousou importuná-la.