Quem não assistiu "O último jantar"
( The last supper)
que assista.
O filme é antigo, de 1995, a diretora Stacy Title é, apesar de ter feito outros filmes, pouco conhecida... e tem a Cameron Diaz num dos seus primeiros papéis...prá quem interessar...
Enfim...passaria desapercebido, como uma obra discreta dentre tantas espalhafatosas... mas é uma obra de arte. Não há nada em demasia ou em falta... tudo está no seu devido lugar, e isso é uma boa condição prá se ter algo memorável...
No filme o mote é o seguinte: jovens intelectuais acadêmicos chamam pessoas de controversas posições políticas, religiosas e afins para um jantar - debate. Com isso eles esperam exercitar sua própria capacidade de argumentação, conseguindo refutar as colocações de seus convivas e convencendo-os de quão enganados eles estavam, assim "salvando-os" da iniquidade.
O problema é que muitas dessas crenças não estão pautadas no discurso liberal-racional- acadêmico, e a maioria dos convidados não parece muito disposta a abrir mão delas mesmo assim...
Que fazer então com seu conviva homofóbico, misógeno, extrema-direita?
Um desastre indica o caminho... a discussão sai do âmbito das idéias e passa a agressão física... na briga um dos visitantes é ferido e morre.
A partir daí os amigos passam a chamar toda a semana uma persona non-grata para um enfrentamento de idéias...porém se a pessoa não se convencer de sua posição equivocada, ela ganha o direito a brindar com um vinho especial...com alta concentração de arsênico.
O filme é inteligente do início ao fim.
Os amigos liberais, politicamente-corretos, formalmente educados, dão um show de... INTOLERÂNCIA...ao mandar prá baixo da terra os "futuros Hitler", os "futuros Stalin", e assim por diante...
Nada dá errado nos planos dos moços salvadores-do-planeta... cheios de boas-intenções eles continuam fazendo sua "limpeza ideológica" e aumentando o adubo de seu jardim e de sua plantação de tomates que cada dia se torna mais exuberante...
Mas o problema é que a intolerância começa a ser tamanha que começa a estremecer os laços de amizade entre moderados e exaltados, eles passam a mal se suportar uns aos outros e no fim no meio à duvidas e culpa a não suportar nem a sí próprios.
Os poderes de conceder ou não a vida à alguém mexem com a cabeça dos moços, esse "pode tudo" leva suas crenças morais à derrocada, vaidade, culpa e descontrole se instalam em medidas diferentes em cada um deles, transformando-os em sombras do que um dia poderiam ter sido...em cinzas dos heróis que desejavam ser...
É muito interessante...vê-los cedendo ao mal pela primeira vez...e acompanhar essa erva daninha se instalando e rompendo as paredes da casa interna de cada um e da casa externa na qual vivem todos eles...
Parece assustador não é? Seria...se o filme não fosse em tom de fino humor-negro, o que torna o trabalho da diretora algo mais memorável ainda, nada de cenas deprimentes, nada de sangue, nada de existencialismos... tudo muito leve, mas um leve que gruda na cabeça da gente e fica semanas rodando sem parar...
Ah, será que você tinha noção real do que queria dizer alteridade antes de assistir esse filme?