domingo, 20 de março de 2011

VOCALIZE SEUS SENTIMENTOS!

"Querida, você é transparente, cristalina. Você não pode continuar assim.
As pessoas olham prá você e sabem o que você está sentindo.
Quando elas não sabem você ainda faz questão de dizer!
As pessoas tem certeza do seus sentimentos e de como você vai agir...elas tem muita segurança...
Isso é errado porque te torna muito vulnerável.
Você precisa se proteger..."


Quando eu escutei isso de uma terapeuta, que diga-se de passagem me ajudou bastante e não era uma incompetente, fiquei imaginando que esse discurso era exatamente o que se espera de nós no mundo atual, e ela de alguma maneira estava querendo me inserir socialmente e me poupar de penas futuras.

Uma vez crianças, transparentes e cristalinos, vamos crescendo e escutando:

"Proteja-se."
"Camufle seus sentimentos."
"Use a incerteza sobre quem você é e como você se sente para estar à frente do outro, para dominá-lo, subjugá-lo."

Lá pelas tantas...nas estradas da vida, percebemos que ninguém nos conhece, nem nós mesmos, nem sabemos das nossas virtudes e nem das nossas fraquezas; e que estamos sós, emparedados, cimentados na nossa armadura de proteção. Então passamos a fazer cursos, terapias e massagens e o diabo-a-quatro prá quebrar a nossa casca dura, que empedrou pela sobreposição de camadas ao longo de anos...um verdadeiro trabalho arqueológico!

Eu sempre tive uma certa dificuldade de mascarar meus sentimentos e isso era um demérito social, digamos assim...
A camada que separa o meu interior do que eu projeto para as pessoas exteriormente é fina, mole e transparente. Se eu estou alegre eu canto, rio, brinco, se estou chateada com algo, fico mofina, está estampado na minha cara e eu não tenho receio de dizer o porquê.
Mas também se eu não quiser dizer eu digo: "Eu não quero falar sobre isso agora", ou "Eu não quero falar disso nunca"...

Parece coisa de criança... mas é!
Precisamente: coisa de criança.
Não ter vergonha de vocalizar!!!
Expor o que se está sentindo, da mesma forma que se expõe as necessidades básicas, "estou com fome", "estou com sono", "preciso ir ao banheiro"...


Diversamente do que pregam por aí, sempre gostei de sinalizar prás pessoas como eu estou me sentindo em relação às coisas porque acredito que facilita, afinal ninguém é adivinho, vidente...

E as pessoas podem achar que é com elas o problema e simplesmente não é...Porque então não aliviar o outro de mais uma preocupação?
Ou porque não dar ao outro a satisfação de saber que algo que ele fez nos deixou feliz, foi importante pro nosso crescimento, sei lá...
Ou o contrário, porque não deixar claro pro outro que é ele o responsável pelo nosso pesar, para que ele se corrija, ou aceite por fim ser catapultado das nossas vidas por justa causa?

Quanto a isso me tornar vulnerável, desprotegida...
Para quê você precisa estar protegida se não há um conflito em vista?
Ou se você pode desarmá-lo antes, exteriorizando seus sentimentos e posicionamentos?
E se você for atingido? E se cair? Qual é o problema nisso?
Quantas vezes nós caímos?
Quantas vezes nos levantamos e retomamos a caminhada?


A pior dor é aquela de quem não sente nada, nem dor.


* Uma água-viva não se espatifa em mil pedaços, ela é mole e se você enfia cruamente o dedo dentro dela e aperta, quando o dedo é retirado ela volta a sua forma antiga com menos cicatrizes do que quem ousou importuná-la.