sábado, 9 de abril de 2011

O CORPO SAGRADO E O CORPO PORNOGRÁFICO

Aprendí nessas longas jornadas da vida a considerar todo corpo como sagrado.
E que todo corpo de mulher é mais sagrado ainda.
Bom, pode ser porque eu sou mulher e escrevo a partir dessa condição sempre...enfim nada a fazer sobre isso...
Mas o fato é que para mim todo corpo é um templo, e um corpo que pode abrigar, nutrir e desenvolver um outro corpo é desta forma um templo duas vezes.

Muitas metáforas trazem o corpo humano com lugar sagrado, mas em alguns momentos da história as medidas do corpo humano, suas proporções, foram utilizadas como modelo para construções arquitetônicas, principalmente de templos quem quiser saber mais sobre isso que procure os tratados de arquitetura de Vitrúvio.
*Ele que viveu no séc. I a.c foi o criador daquele desenho que tornaria célebre Leonardo da Vinci- do corpo humano dentro de um círculo e de um quadrado. No renascimento seu texto foi traduzido e influenciou as construções da época e posteriores. O meu mestre supremo- o professor Raul Antelo da UFSC deu uma aula maravilhosa sobre entre outras coisas- Vitrúvio.

Em muitas religiões - um Deus, ou Deus- habita cada corpo de homem e cada corpo de mulher e ofender essa morada é ofender o Deus que alí habita.

Eu costumo observar mais as mulheres, talvez pela minha necessidade de compreender afinal o que é esse mistério de ser mulher, e eu vejo essas mulheres na praia, no vestiário da academia... e seus corpos, tão diversos em tamanho, cor, idade...muitas são gordas, outras nem tanto, outras magras, outras peitudas, outras sem peito, malhadas, jovens , velhas, recém saídas da infância... Todos esses corpos sem exceção me parecem sagrados - eles soam como variações, reflexos da mesma divindade feminina que gesta, pari, alimenta tudo o que existe no universo, inclusive filhos.

É tão estranho pensar que todas essas nuances do divino se apaguem quando você tem um corpo pornográfico...

A principal característica da pornografia, seja qual for ela, é destituir o indivíduo de sua completude e singularidade.
Parte- se o indivíduo extraindo dele apenas o corpo.
Mas o que é um templo que não é habitado por Deus? É uma casa morta, e uma casa vazia não tem razão de ser...

Ao criar uma imagem pornográfica de alguém o processo que ocorre é o de tornar vil o que é sagrado.
A pessoa passa a ser algo e não alguém, ou seja um objeto, como uma mesa, uma cadeira, um sapato...

Isso é mais grave ainda se levarmos em conta que o ser-humano tem o costume de humanizar objetos, atribuindo-lhes características emocionais ao associá-los à sentimentos ou fatos de sua vida, tornando o seu meio circundante mais caloroso e empático.

Portanto ao tornar uma pessoa uma imagem pornográfica torna-se ela menos que um objeto. Torna-se ela um nada, um ser vivo caminhante, falante, mas que é como um zumbi, um morto-vivo.
* Essa destituição do humano do que lhe é mais característico ocorreu nos campos de concentração como descreveria Agamben no seu livro "O que resta de Aushwitz".

Curiosamente na atualidade as pessoas tem mais e mais interesse por pornografia. Se antes ela parecia de interesse apenas dos homens- heteros e gays- agora são as mulheres que buscam essa indústria do sexo. Claro que as mulheres querem explorar todas as possibilidades que antes eram apenas dos homens, mas eu me pergunto: Será que precisamos mesmo? E será que os homens precisam também? Será que a excitação deles por essas imagens é real?

Todos os homens que eu conheci na vida gostavam de pornografia, gays, heteros, solteiros, casados, jovens, velhos... podiam esconder que gostavam por uma questão de falso decoro, mas gostavam e em algum momento isso aflorava.
Agora eu é que nunca entendí porquê, qual a graça que eles viam naquilo tudo...e olha que eu tentei, e tentei e cheguei a conclusão que prá mim aquelas pessoas da industria do sexo que eram apresentadas como objetos nunca deixaram de ser mães, irmãs ou fillhas de alguém... eu sempre pensei nelas com filhos prá criar, com contas prá pagar, com carências, sonhos...na verdade eu sempre pensei nelas como pensava em mim mesma...

Todo ser humano tem uma história, tem um caminho, tem um dom a realizar... e todo corpo traz essas marcas em sí...
E todo ser humano tem seu mistério, suas aguas profundas, das quais a gente só consegue perceber reflexos...
Então como querer que uma pessoa seja apenas um objeto?

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