Eu aprendi com um amigo que a música é composta de sons, mas também de silêncio.
Não é a quantidade de sons que define a música, mas os silêncios...
E quanto mais refinada, maiores eles são...
Observando as pessoas pude perceber que muito daquilo que se fala, se fala calando...
E aquilo que não está escrito às vezes é mais forte do que aquilo que foi escrito.
Assim como os melhores compositores, os melhores escritores são os que sabem calar.
No ápice do processo que relaciona silêncio e linguagem Clarice Lispector dizia que a sua busca era fazer a linguagem falar o que não podia ser falado - o inefável.
Em nossa forma menor nós falamos, sem palavras, o que não pode ser falado o tempo todo...
Isso é uma abstração às vezes muito difícil de explicar:
Como o ar, está lá, é responsável por inúmeros fenômenos, mas você não vê.
Ele move moinhos, mas você não vê...
"Não se deve fazer divisão binária entre o que se diz e o que não se diz; é preciso tentar determinar as diferentes maneiras de não dizer, como são distribuídos os que podem e os que não podem falar, que tipo de discurso é autorizado ou que forma de discrição é exigida a uns e outros. Não existe um só, mas muitos silêncios e são parte integrante das estratégias que apóiam e atravessam os discursos."
Michel Foucault
*Eu adoro o Foucault ele é um mestre em dizer o que foi silenciado dentro do que foi dito.
Quando comecei a estudar literatura a minha obsessão era entender o que estava por detrás do que era dito, ou seja o não-dito. Era até difícil de explicar, prá que os outros pudessem me ajudar, o que eu estava buscando: aquilo que existia mas não estava lá.
Hoje eu sei que o quê está lá, está no silêncio.
Talvez por isso eu ande tão calada...
Nenhum comentário:
Postar um comentário