sábado, 16 de julho de 2011

LIVROS E FILMES

A adaptação de obras literárias para o cinema não é novidade. Alguns críticos resumem o fato de tal ou tal adaptação ser um sucesso por causa de sua coerência, de sua relação perfeita e funcional entre todos os elementos, algo como um relógio suíço.
Mas às vezes, o diretor chega à uma conclusão oposta ao autor do livro...como se a "moral da história" fosse outra, como se traduzindo de um meio para outro as palavras mudássemos o sentido e portanto o significado, complexo não?

Vou falar de algumas adaptações de livros para cinema que me trouxeram o quê pensar:
* Existem as que excedem em qualidade, e em acabamento uma obra literária. É como se o diretor desse uma polida em um material bom, e tornasse-o assim maravilhoso, por exemplo:

- Sobre meninos e lobos, de Clint Eastwood. Baseado no romance de Dennis Lehane, Clint torna um material já soberbo em algo perfeito! Lehane escreveu uma tragédia nos moldes das grandes tragédias gregas numa cena contemporânea, o problema é que em algum momento do seu livro maravilhoso ele cita isso e não precisava, porque o bom leitor sabe, ou melhor quem tem que saber sabe de cara. Clint não fala nada, silencioso, ele confia na inteligência de seu leitor, o que acontece então é uma obra-de-arte!
- O Leopardo, de Luchino Visconti. Essa é a obra-prima de um mestre, mas o romance do Guiseppe de Lampedusa não é essas coisas todas, ele fala demais o que deveria calar, mas o Visconti sabe disso e dá uma desbastada no material, deixa apenas o essencial, e ilumina apenas o relevante, e aí fica perfeito!
- As virgens Suicidas, da Sofia Coppola. Baseado no livro homônimo Jeffrey Eugenides o filme é mais coeso, mais limpo e portanto mais intenso que o livro! O final da Sofia é mais coerente do que do autor....
- As Horas, de Stephen Daldry. O filme foi tão maravilhoso que me fez procurar o livro - de Michael Cunningham... mas o livro não trazia muito mais do que o filme, era interessante apenas apesar de ter ganhado o Pulitzer. O que me fez procurar o tal livro "Mrs. Dalloway" de Virginia Woolf atrás da "grande revelação epifânica" que ocorre com as mulheres do filme, e que comigo não ocorreu...
- Orlando - a mulher imortal, de Sally Potter, baseado no livro de Virginia Woolf - Orlando é mais interessante que o livro...a meu ver. Talvez eu tenha problemas com Virginia Woolf...
- Doutor Jivago de David Lean. O filme é perfeito, grandioso, sensível, inteligente, redondo, nada se tira, nada se põe nele, e ele não subestima seus expectadores como faz o autor do livro homônimo - Boris Pasternak com seu livro de 500 páginas chato e panfletário...

* Existem aqueles que acabam com uma obra literária, solapam, transformam um sem número de camadas diferentes em uma folha de fórmica branca:
- O Paciente Inglês, de Anthony Minghella. O romance do Michael Ondaatje é lindo, suave, delicado, texturado... o filme capta 1% do romance. É quase um resumo para vestibulandos burraldos do livro. E olha que traz Ralph Fiennes, Binoche e Kristin Scott Thomas... é muito desperdício...

* Apenas para cinema:

- The Royal Tenenbaums, de Wes Anderson, o dito-cujo é o diretor e o autor do roteiro. E o filme é perfeitinho, uma obra-prima. Eu achei que era meio bobo e não fui assistir no cinema. Dancei.
- O Piano, de Jane Campion. A mesma coisa, ela é a diretora e autora do roteiro de um dos filmes mais poéticos já produzidos!
- Match Point, do Woody Allen. Eu sempre gostei do Wood Allen...mas os filmes dele parecem sempre trabalhar em um tom menor, não este. Roteiro perfeito, direção idem.

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