quinta-feira, 30 de junho de 2011

WILHELM REICH

Já faz algum tempo estou lendo a obra de Reich, tudo começou com "A função do Orgasmo" que me emprestou uma amiga querida - e eu acabei pedindo o livro, que cara-de-pau...
Passei por alguns capitulos do "Análise do caráter" e por fim cheguei ao capítulo O abraço genital do livro "O assassinato de Cristo".

Existem autores que mudam a vida da gente, mesmo que a gente tenha lido um livro só do sujeito ele já desbarranca tudo e lá vamos nós reconstruir nosso mundinho sobre outros parâmetros...Ah meu Deus! É assustador, dá um trabalho enorme, mas é maravilhoso quando isso acontece. Porque o nosso horizonte se amplia: é o tal aprendizado.
Cada um tem os seus mestres... Dos muitos mestres que me jogaram no chão e me reergueram mais forte, e mais sábia, o último, o mais recente foi Wilhelm Reich.

Reich era médico- formou-se em 1922 pela Universidade de Viena. Ainda estudante passou a estudar temas como a sexualidade e entrou em contato com Freud,
o resultado disso foi mais de uma década de trabalho com psicanálise e de relacionamento teórico com a Associação Psicanalítica Internacional.


O que Reich observou durante esse tempo foi que embora muitas vezes viesse à tona o que causou o problema psicológico do paciente, os sintomas persistiam... E aí? O que fazer? Segundo ele a psicanálise na época parava por aí: descobrindo o motivo da neurose esperava-se que os sintomas desaparecessem...caso isso não ocorresse não havia o que fazer a seguir.

"Estabelecera-se inicialmente que o sintoma tinha que desaparecer quando o seu significado inconsciente se tivesse tornado consciente. Agora Freud afirmava: temos de fazer uma correção. O sintoma pode, mas não é obrigado a desaparecer quando o significado houver sido descoberto [...] Se o tornar o inconsciente consciente não elimina necessariamente o sintoma, que outro fator deve existir que garanta o seu desaparecimento? Ninguém sabia a resposta.
O analista continuou a interpretar sonhos, atos falhos e correntes associativas, sentindo-se pouco responsável pelo mecanismo de cura."

A partir daí Reich levantou a hipótese de que os traumas que causavam as neuroses se alojariam no corpo do paciente criando uma couraça- uma rigidez física- que impediria o fluxo da energia vital- que ele chamou de energia orgástica, essa couraça era responsável pelos sintomas físicos do disturbio psicológico.

"O que mais me impressionou neste caso (de um paciente) foi o fato de que uma experiência psiquica pode provocar uma resposta somática que produz uma mudança permanente em um órgão. Mais tarde chamei esse fenômeno de ancoragem fisiológica de uma experiência psiquica."

E desenvolveu uma metodologia de manipulação do paciente chamada de "Análise do caráter" na qual através de massagem, exercícios, e movimentos respiratórios ele dissolvia a couraça e liberava o corpo dos sintomas físicos da neurose.

"Por meio de tensões, a musculatura pode obstruir a corrente sanguínea; em outras palavras, pode reduzir o movimento dos fluidos do corpo" (O que seria a causa das disfunções físicas).

"A liberação das atitudes musculares rígidas produzia sensações corporais peculiares nos pacientes: tremor involuntário e contrações dos músculos, sensações de frio e de calor, coceira, impressão de picadas de alfinetes e agulhas, sensações de espinhos, uma impressão de grande excitação nervosa, e percepções somáticas de angústia, cólera e prazer."

"A finalidade [da técnica da Analise do caráter] é liberar os afetos que, em dado momento, estiveram sujeitos a severa inibição e fixação. Isso se consegue soltando as incrustações do caráter. Toda dissolução bem sucedida de uma incrustração de caráter libera primeiro emoções de cólera ou de angústia. Tratando essas emoções liberadas como mecanismos psiquicos de defesa, conseguimos enfim restaurar no paciente a sua motilidade sexual e sensibilidade biológica."

"A neurose não é somente a expressão de uma perturbação no equilíbrio psíquico; é, mais propriamente, em um sentido muito mais verdadeiro e profundo, a expressão de uma perturbação crônica do equilibrio vegetativo e da motilidade natural."

"Para a terapia de Análise do carater, as atitudes musculares assumem também outra importância. Oferecem a possibilidade de evitar, quando necessário, o complicado rodeio pela estrutura psíquica, e de atingir diretamente os afetos a partir da atitude somática. Dessa forma,
o afeto reprimido aparece antes da lembrança correspondente."

Na década de 20 e de 30 Reich propõe de forma científica essa relação de mútua influência entre os mecanismos psíquico e o físico chamada de somatização. Apesar de muito se ouvir falar dela, a relação entre distúrbios psicológicos e disfunções físicas até hoje é muito controversa, agora tentemos imaginar isso naquele tempo, numa época em que a psicanálise era ainda jovem e muito contestada...

Por propor que fossem tomadas medidas profiláticas - uma reeducação sexual libertária das massas- contra os distúrbios psicológicos e seus sintomas , Reich foi expulso da Associação Psicanalítica Internacional em 1932.

* Continuo em breve...

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